Os moradores da região noroeste do Ceará sofrem os impactos das intensas chuvas. Rios transbordam, estradas estão alagadas e uma barragem na zona rural de Morrinhos ameaça romper, deixando os moradores da zona rural de Santana do Acaraú em risco
Em todo o ano de 2018, choveu 1.102 na zona Norte. Nos
primeiros meses de 2019, a Funceme já observou 925.8 mm na região (Foto: Mateus Ferreira - Sistema Verdes
Mares)
Colaboração: André Costa/Mateus Ferreira/ Maristela Glaucia,
Parte da região noroeste do Ceará está em alerta. As
intensas chuvas que se concentram na região, desde o início do período
invernoso, provocaram o aumento considerável do nível das águas de afluentes,
barragens e açudes. Agora, o temor é pelo rompimento de uma barragem que fica a
40 km de distância de Santana do Acaraú, no Município de Morrinhos, é o que
afirma uma reportagem do Diário do Nordeste publicada nesta quinta-feira (4).
O açude Pilões, construído há 81 anos, na zona rural de
Morrinhos, está na iminência de atingir sua cota máxima. A parede da barragem
apresenta erosão e o sangradouro está totalmente obstruído. De acordo com
Wilson Maranhão, técnico da Defesa Civil do Estado, "o risco [de
rompimento] existe, é pertinente". Ele sugere uma atenção especial com o
reservatório que é particular e não possui registros na Superintendência de
Obras Hidráulicas (Sohidra) ou Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh). "Há um desgaste da parede", observou Maranhão.
Paredes do açude Pilões está com erosões - Foto: Reprodução
Impactos em Santana do Acaraú - Embora a barragem fique em
Morrinhos, a cidade de Santana do Acaraú seria a mais afetada com um eventual
problema no açude, por estar geograficamente abaixo do reservatório. Em 2013, o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Morrinhos elaborou um relatório mostrando
os problemas estruturais e sugerindo o imediato reparo do açude, que possui
relevância no abastecimento humano e também para a agricultura. De acordo com o
presidente do Sindicato Ivan Araújo, nenhum órgão emitiu qualquer retorno.
Gabinete de Crise - A Defesa Civil do Estado foi acionada.
Técnicos estão avaliando as condições de todos os reservatórios da região,
sejam eles particulares ou os que são monitorados pela Cogerh. Conforme
Maranhão, hoje (4), um representante da Cogerh se junta à Defesa Civil, à
Prefeitura de Santana do Acaraú e ao proprietário do açude para uma nova
avaliação da barragem. A Prefeitura montou um gabinete de crise, e a Defesa
Civil está monitorando as áreas de risco.
Gabinete de Crise da Prefeitura de Santana do Acaraú - Foto:
Divulgação
Outras Barragens – Ainda em Santana do Acaraú, outras
barragens públicas e particulares estão, sendo monitoradas pelo Gabinete de
Crise montado pela prefeitura e que conta com a participação de técnicos da
Defesa Civil do Estado e do município. Após a representação encaminhada pelo
jornalista Manoelzinho Canafístula ao Ministério Público no ultimo dia 15 de
março. A promotoria pública de Santana do Acaraú notificou a prefeitura e
recomendou uma série de medidas que devem ser adotadas para prevenir desastres
naturais em decorrência das intensas chuvas que afetam o município, uma atenção
especial, está sendo voltada ao açude José Ananias Vasconcelos (Carnaúbas) em
virtude da obra, ainda não ter sido concluída e apresentar problemas em sua
estrutura, o reservatório tem capacidade para armazenar até 14 milhões de m³ de
água e fica a 12km da cidade.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Santana do
Acaraú, Arakém Vasconcelos, os técnicos estão monitorando diversas barragens,
“iremos monitorar inicialmente os açudes: Carnaúbas (que tem nas proximidades
de seu leito diversas comunidades agrícolas), o Oriente, no bairro Pedregal, o
Mucambo, em Mutambeiras e os das localidades de Malhada dos Bois e Ipueirinhas,
que serão acompanhados de perto para ver a situação de risco”, disse o
coordenador.
Foi realizada ainda, uma visita ao açude de Pilões, na zona
rural do município de Morrinhos, para vistoria da barragem, que em caso de
rompimento, a água pode escoar para o açude santanense de Mucambo, em
Mutambeiras, gerando danos aos moradores. “Será feito um relatório de análise
dos pontos críticos e de possíveis alagamentos”, finalizou.
Água invadiu cinco residencias no Alto da Liberdade em
Santana do Acaraú - Foto: Divulgação
Alagamentos – Na zona urbana de Santana do Acaraú mais
transtorno. O nível do rio que corta o Município aumentou e deixou pelo menos
cinco bairros alagados. O Alto da Liberdade foi o mais afetado. Residências
foram inundadas durante a madrugada dessa quarta-feira (3) e cinco famílias
tiveram que ser removidas de seus imóveis. Elas foram abrigadas em uma escola
pública.
Suspensão das aulas - As aulas em Santana foram suspensas
até o fim desta semana. Como a maioria das estradas do Município está
danificada, a Prefeitura "adotou a interrupção das aulas como medida de
segurança, uma vez que a maior parte dos estudantes se utiliza do transporte
escolar". As aulas serão repostas, garantiu a secretaria de Educação do
Município.
Nos três primeiros dias de abril, as precipitações em
Santana representam mais da metade do esperado para todo o mês. Em março, a
Funceme observou 367,2mm para o Município, o que sinaliza 64% acima da média
histórica para o período, que é de 223,9 mm.
Rio Coreaú ameça inundar a cidade de Granja - Foto: Mateus
Ferreira
Granja – O Município de Granja é outro da região noroeste
que está sofrendo com os robustos índices pluviométricos. O nível do Rio Coreaú
subiu mais de três metros, na tarde de ontem (3), e, caso atinja 4 metros, a
barragem Limão Brandão, que recebe essa água, irá transbordar. "Se isso
acontecer, casas de vários bairros serão alagadas. Os mais afetados serão
Barrocão e Lagoa Grande, e depois as águas vão inundar o Centro da
cidade", explicou o contador José Carlos Henrique.
O Rio Coreaú nasce na Serra da Ibiapaba e passa por nove
municípios. Neste percurso, ele abastece três reservatórios. Todos já estão
transbordando: o Gangorra, em Granja; o açude Angicos, em Coreaú, e o Várzea da
Volta, na cidade de Moraújo. Os três não atingiam, juntos, a cota máxima há dez
anos. Em 2009, partes das cidades de Ubajara, Frecheirinha e Granja foram
inundadas.
Este último município foi o mais afetado. À época, quase
toda a cidade ficou debaixo d'água e dezenas de famílias ilhadas. O agricultor
Manoel Santana recorda da noite de "pânico" que ele, e sua família
viveram há exatamente uma década. "Acordamos já com a água por toda a
casa. Foi um pânico geral, tivemos que deixar nossa casa e sair praticamente
com a roupa do corpo. Neste ano vou sair antes que torne acontecer".
Moradores de Granja tiram eletrodomésticos de suas casas por
receio de perder equipamentos com alagamentos — Foto: Mateus Ferreira
Receosos de que este cenário se repita, muitas famílias
começaram a deixar suas casas no fim da tarde de ontem. A Defesa Civil do
Município não confirmou quantos imóveis foram esvaziados. A Prefeitura está
alugando imóveis para receber as famílias vulneráveis que residem em áreas de
risco.
O município de Coreaú, também cortado pelo rio homônimo, foi
outro que sofreu com a cheia do afluente. De acordo com a Secretaria de
Recursos Hídricos do Município, 20 famílias, que moram em áreas de risco,
próximo ao leito do rio, estão alojadas em casas de parentes e em imóveis
alugadas pela Prefeitura. A Defesa Civil acompanha o nível do açude para
identificar se outras famílias também estão correndo risco.
Quebra de índices - Todos esses impactos da chuva podem ser
mensurados em números. Em janeiro deste ano, a Funceme observou o acumulado de
126,1 milímetros na Zona Norte, o que representa 13,6% acima da média histórica
para o mês. Em fevereiro, choveu 80,8% a mais do esperado para o mês. Em março,
foram registrados os maiores índices. A região foi a mais chuvosa de todo o
Estado. A Funceme aponta o acumulado de 414,4 mm, 56,7% a mais do que a média
para o mês, que é de 264,2 milímetros.
Já em Granja, cidade do Norte mais atingida pelas águas, os
números são ainda mais significantes. Em apenas três dias, já choveu mais de
50% do esperado para todo o mês de abril. Até agora, o órgão já observou o
acumulado de 133.2 mm. Para o período, o volume médio é de 253,1 milímetros.
Desde o início do ano, os números são ainda mais expressivos. As precipitações
observadas até hoje (1094,7 mm), já superam todo o volume de chuva anual para
Granja, que é de 1065,2 mm.
Tribuna dos Vales
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